segunda-feira, 15 de junho de 2020

Portugal 41: O legado de Eusébio


Não importa agora que todos o chorem, mesmo aqueles que, no próprio Estádio da Luz, o assobiaram em 1976, quando, crivado de cicatrizes e com um joelho desfeito, o mercado de futebol o dispensou.

E aqueles outros, que o tentaram manipular como símbolo de um império multirracial e colar a sua imagem à ambição de poder partidário.
Nas suas últimas entrevistas, deixou duas mensagens claras, uma para a morte outra para a vida:
Sobre o seu caixão queria três bandeiras: a do seu clube, de Portugal e de Moçambique.
Fazendo balanço da vida, lamentava apenas que não tivesse estudado, enquanto jogava futebol. E, para que não houvesse dúvidas sobre o que queria dizer, afirmou sobre o talento futebolístico do seu neto: que o aconselhava a dar maior importância ao estudo e só depois ao desporto de que foi rei.
Escrevo de um país onde o governo e o  Presidente da República cumpriram com o seu dever  de luto nacional. E veio-me à memória outra morte e um país enlutado, a de Saramago, onde esse dever foi incumprido. Por isso estou certo que, por ínvios caminhos e, se o campo dos justos é, como o sonhou Dante (o poeta da Divina Comédia), um vasto plaino coberto de relva verde, neste momento, Saramago e todos os Homens bons, alinhados, onze face a outros onze, seguem fascinados o menino com a bola de trapos que corre, veloz, feliz e descalço para a baliza…da eternidade.

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