Não importa agora
que todos o chorem, mesmo aqueles que, no próprio Estádio da Luz, o assobiaram
em 1976, quando, crivado de cicatrizes e com um joelho desfeito, o mercado de
futebol o dispensou.
E aqueles
outros, que o tentaram manipular como símbolo de um império multirracial e
colar a sua imagem à ambição de poder partidário.
Nas suas últimas
entrevistas, deixou duas mensagens claras, uma para a morte outra para a vida:
Sobre o seu
caixão queria três bandeiras: a do seu clube, de Portugal e de Moçambique.
Fazendo balanço
da vida, lamentava apenas que não tivesse estudado, enquanto jogava futebol. E,
para que não houvesse dúvidas sobre o que queria dizer, afirmou sobre o talento
futebolístico do seu neto: que o aconselhava a dar maior importância ao estudo
e só depois ao desporto de que foi rei.
Escrevo de um
país onde o governo e o Presidente da República
cumpriram com o seu dever de luto
nacional. E veio-me à memória outra morte e um país enlutado, a de Saramago,
onde esse dever foi incumprido. Por isso estou certo que, por ínvios caminhos
e, se o campo dos justos é, como o sonhou Dante (o poeta da Divina Comédia), um
vasto plaino coberto de relva verde, neste momento, Saramago e todos os Homens
bons, alinhados, onze face a outros onze, seguem fascinados o menino com a bola
de trapos que corre, veloz, feliz e descalço para a baliza…da eternidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário