sábado, 27 de junho de 2020

Portugal 51: A fábula das aranhas ( ou, aracnismo* político):

*O termo aracnismo significa envenenamento ocasionado pela mordedura de um aracnídeo peçonhento, por exemplo, uma aranha ou escorpião.


No geral as aranhas são predadoras. A estratégia de captura das presas mais usada é a das teias adesivas, mas os órgãos de comunicação social formatados pelo austeritarismo, servem perfeitamente para o efeito.
Uma outra estratégia é conhecida como senta-e-espera na Assembleia da República, que permite ao predador economizar o máximo de energia entre uma captura e outra, mantendo o metabolismo baixo. Os trabalhos da “Comissão Parlamentar de inquérito à recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e à gestão do banco”, criada em 2016-07-01, ainda nada apuraram
” … no domínio da concessão e gestão de crédito desde o ano de 2000 pelo banco em Portugal e respetivas sucursais no estrangeiro, escrutinando em particular as posições de crédito de maior valor e/ou que apresentem maiores montantes em incumprimento ou reestruturados, incluindo o respetivo processo de aprovação e tratamento das eventuais garantias, incumprimentos e reestruturações;”
Várias evidências sugerem que as aranhas evoluíram em condições de privação alimentar, isto é, do poder. Podem passar por longos períodos de tempo em jejum, mas quando chegam ao governo consomem todas as presas que podem, sobretudo as mais indefesas, particularmente utentes do Serviço Nacional de Saúde, pensionistas e funcionários públicos, expandindo então, consideravelmente, o abdómen.
Essas características sugerem que as aranhas descendem de um país ancestral, com baixa disponibilidade de emprego e cuidados para os filhos, de nome Portugal. Atualmente, essa situação não é muito diferente, e os juvenis e outros espécimes desprotegidos, como os desempregados de longa duração, ou emigram ou vivem em stresse alimentar.
A exúvia de um artrópode pode ser útil para identificar a espécie. A exúvia é em geral exclusivamente constituída por cutícula quitinizada ou material córneo, podendo por vezes conter órgãos cuticulares como escamas ou cerdas: é o que se encontra na mudança de pele largada pela cobra. Mas também pode incluir memórias políticas em papel impresso e outros vestígios, de verdades e mentiras “irrevogáveis” e de um estado, “oh!, já sem gorduras”, de “cofres cheios”( para quem?). Porque, afinal, ainda é preciso…
“Avaliar os factos que fundamentam a necessidade de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos, incluindo as efetivas necessidades de capital e de injeção de fundos públicos e as medidas de reestruturação do banco;”
e
“Apreciar a atuação dos órgãos societários da Caixa Geral de Depósitos, incluindo os de administração, de fiscalização e de auditoria, dos auditores externos, dos Governos, bem como dos supervisores financeiros, tendo em conta as específicas atribuições e competências de cada um dos intervenientes, no que respeita à defesa do interesse dos contribuintes, da estabilidade do sistema financeiro e dos interesses dos depositantes, demais credores e trabalhadores da instituição e à gestão sã e prudente das instituições financeiras e outros interesses relevantes que tenham dever de salvaguardar.”
Mas, não! As aranhas alçapão (família Ctenizidae) e as tarântulas presidenciais, não são laboriosas formigas, são predadoras de emboscada que espreitam imóveis em tocas como as Comissões Parlamentares, e, num bote violento, tiram o tapete aos ministros.
Mesmo quando são aranhas que mimetizam formigas, desenvolvendo abdómens mais finos e falsas cinturas no cefalotórax e conseguem mesmo mimetizar o andar em ziguezague das formigas obreiras derreadas pela labuta permanente, misturando-se com elas na dura faina do dia-a-dia, ou aranhas que são saltadoras, de um partido do poder para outro, da cadeira de ministro para o conselho de administração da holding, do banco do credor para o cadeirão do usurário, e deixam de saltar… à nossa frente! A mimetização é afinal uma estratégia de captura de alimento, até ao topo da cadeia trófica, e nada é mais suculento que o poder.
Colocado entre a espada e a parede, o ministro escolheu a espada. Doutro modo, escreveríamos no seu epitáfio, o que o velho B.B. gravou em versos de despedida:

“Dos tubarões fugi eu!
Os tigres, matei-os eu!
Devorado, fui eu,
Pelos percevejos!”

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