Só a noite nos une. O breu da noite
liberta as almas dos seus lajedos. Nessas horas noturnas, em que a lua alta cobre
a catedral com um manto azul, encontro a tua sombra deslizando furtiva pelo arco
do Portal de Santa Maria, a grossa bainha da espada projetando o seu funesto
gume entre revoadas de anjos que voltejam entre os pináculos e as cúpulas das
capelas doiradas.
Atravessando a ponte
a passo largo, ligeiramente vergado ao peso dos cinzéis e maços de ferro, Manoel
Pereira retoca apressado a pedra branda das estátuas de guerreiros e bispos e
desaparece entre os arcos da Cartuxa de Miraflores, num diálogo interminável
com os seus cristos sofridos, humanas frontes erguidas num severo queixume, apenas
um murmúrio, quebrando o voto de silêncio de San Bruno e a eternidade.
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