O quadro Guernica, de Pablo Picasso, guarda a memória do bombardeamento da cidade basca (Gernika) com o mesmo nome, em 26 de abril de 1937.
ICONOGRAFIA E ICONOLOGIA
o soldado morto e decepado no
chão, a espada quebrada e os olhos abertos, sugere que a causa porque pereceu
continua viva e a flor que cerra no punho, a esperança que essa causa há-de
florescer do martírio (destaque 1)
a mãe que chora a morte do filho
nos seus braços, um signo que vem da literatura russa de denúncia da repressão
czarista (Máxino Gorki, A Greve) e depois da cinematografia de Eisenstein_ os
fuzilamentos da multidão que sobe a escadaria do palácio de Inverno do Czar,
com o grande plano de uma mãe que ampara nos braços o filho morto, do filme
Outubro ou ainda o arquétipo da arte relgiosa_ a Pietá, imortalizada por
Leonardo da Vinci, (esquerda do quadro) (destaque 2)
a mulher em desespero enquanto a
sua casa é destruída por chamas, que ergue os braços em desespero como a figura
centra do quadro de Goya_ Os Fuzilamentos de 4 de maio, 1808, representação da
dor e da raiva do pintor perante o massacre dos civis de Madrid, provocado
pelos exércitos invasores de Napoleão para inculcar no povo o terror e o
espírito de submissão, retomada pela estratégia nazi na Europa (Blitzkrieg) e a
estratégia dos militaristas chineses na Ásia e, sobretudo, na China (massacre
de Nanquim, 200.00o mortos). (direita do quadro) (destaque 3)
a mulher com a perna ferida que
tenta fugir do caos (no centro da pintura) (destaque 4)
a mulher com um candeeiro, que
ilumina e desvela a barbárie da nova guerra, como símbolo do próprio quadro,
que correu o mundo a denunciá-la (no centro do quadro e, sobre ela, a lâmpada
de eletricidade, que representa, duplamente, o olhar dos deuses, antigos e
modernos, que é omnipresente mas inútil e a dupla face da tecnologia
contemporânea, que eleva o Homem à condição de criador da luz mas, ao mesmo tempo,
lhe fornece os instrumentos do seu próprio extermínio (destaque 5)
o cavalo despedaçado, no centro
da tela, como sígno da morte absoluta, que não poupa nem seres humanos nem
animais, nem mulheres nem crianças e é a representação do próprio apocalipse que
a guerra moderna torna realidade.
todas estas figuras conduzem o
nosso olhar, arrastam-se, num movimento coletivo da direita para a esquerda, em
direção ao Touro com duas faces, representado numa estranha serenidade, como o
rosto da Espanha violenta, o signo transmudado do golpe de Franco, mas que nos
enfrenta com um olhar acusador, lembrando que somos nós, os seres humanos, que
a fizemos assim, transformando um animal pacífico numa besta brutal, quando
sujeita á violência e ao ritual sangrento da guerra.
Ao seu lado direito, quase
impercetível, se não fora a mancha branca destacada na tela, a pomba branca da
paz, ferida de morte.
ICONOLOGIA
Contexto histórico-político
A espada quebrada representa a
derrota das forças democráticas e populares, abandonadas pelas democracias
ocidentais _ apenas a então URSS prestou apoio político e militar á nova
República espanhola e os voluntários das Brigas Internacionais, vindos de todo
mundo.
Enquanto, ao lado dos militares
golpistas, alinharam as duas potências fascistas emergentes, a Alemanha e a
Itália, que não apenas forneceram armas modernas ao general Franco, como
enviaram as suas forças aéreas, marinha e grupos blindados, para combater a seu
lado.
Os edifícios em chamas indicam a
destruição não apenas em Guernica, mas a destruição causada pela guerra
contemporânea e iniciada com o levantamento militar dos fascistas de Franco,
contra o Governo Republicano eleito.
O bombardeamento deu início ao
período de barbárie da guerra moderna, com o recurso aos bombardeamentos aéreos
indiscriminados contra as cidades e as suas populações indefesas, sem visar
especificamente alvos militares, que hoje perdura.
Picasso explora as
potencialidades expressivas do cubismo, cada figura pode ser representada
associando vários planos e não apenas aqueles que surgem em frente dos nossos
olhos numa visão naturalista.
Selecionou uma paleta de cores
negras e cinzentas, que evocam a visão da cidade depois do bombardeamento,
reduzida a cinzas., e o luto...pela Humanidade.
Hemingway, o romancista
americano, escreveria mais tarde: Não perguntes por quem dobram os sinos, em
Espanha!? Eles dobram por ti!
O quadro regressou a Espanha com
a democracia, em 1981 e encontra-se em exposição no Museu Reina Sofia, em
Madrid, que acolhe a escultura e a arte modernas espanholas.
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