Antero de Quental deixou de escrever poemas no final do século XIX porque achava que o triunfo do novo
século de imensa ciência exigia um outro tipo de arte transcendente e ela só poderia surgir do próprio seio da música. E declarou, pela mesma razão, o fim das grandes sínteses filosóficas, porque filhas do progresso científico, impossível de abarcar em conjunto pela mente mais brilhante de um único ser humano. Mas acessível, a nova filosofia, à inteligência da Humanidade, que havia de ser não apenas a Humanidade dos construtores da História, dessa Tebas das Setes Portas, desses babilónicos jardins e palácios de mármore, mas também a criadora colectiva dos próprios filosofemas. Não será por causa de tal profecia que os físicos mais brilhantes, os que desvendaram o segredo dos átomos, dedicaram os seus derradeiros escritos a filosofar contra a separação dos ramos científicos e sobretudo, perante a sua desvinculação da ética da vida?
século de imensa ciência exigia um outro tipo de arte transcendente e ela só poderia surgir do próprio seio da música. E declarou, pela mesma razão, o fim das grandes sínteses filosóficas, porque filhas do progresso científico, impossível de abarcar em conjunto pela mente mais brilhante de um único ser humano. Mas acessível, a nova filosofia, à inteligência da Humanidade, que havia de ser não apenas a Humanidade dos construtores da História, dessa Tebas das Setes Portas, desses babilónicos jardins e palácios de mármore, mas também a criadora colectiva dos próprios filosofemas. Não será por causa de tal profecia que os físicos mais brilhantes, os que desvendaram o segredo dos átomos, dedicaram os seus derradeiros escritos a filosofar contra a separação dos ramos científicos e sobretudo, perante a sua desvinculação da ética da vida?
Era ainda um tempo de bondade, onde se acreditava que ética e ciência iriam coroar o Direito Universal e este, transformado em leis por homens sábios, elevaria todas as condições sociais ao estatuto da sua Humanidade.
Mas o velho Portugal, que no desterro de Ponta Delgada (ou seria apenas o retorno da criança ao seu berço de terra e mar?) assistia numa praça coberta de nuvens e sombras, ao desespero de Antero ( ou seria afinal derradeiro protesto e serena resolução?), armou-lhe a mão com um funesto revólver e sem qualquer gesto de piedade fulminou-lhe os miolos, dirigiu a bala ali mesmo sem hipótese de desvio, para a fonte material do seu magnífico pensamento.
Estranho e emblemático paralelo: Lincoln abatido pelas costas, no esplendor iluminado de um teatro, e toda a grande nação americana, vivendo ainda o seu sonho de riqueza e de saber, condenada a pagar o crime horrendo face ao tribunal da História. Portugal, sinistro tirano de malas artes, armando os seus próprios filhos para o suicídio, a passar incólume e livre de remorsos, mas ao lado, do concerto das nações recivilizadas. Contudo, ainda hoje, continuamos a penar pela diferença.
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