Passeava um dia com Epicuro num dos jardins onde reunia os seus amigos e, contra os preconceitos da
época, admitia mulheres sem serem cortesãs. Na verdade, era a minha sombra do futuro que se atravessava entre estas figuras clássicas, negras e esguias como nos seus vasos, levemente vestidas com grandes togas e túnicas, talvez já de cambraia finíssima da Índia ou seda natural da própria China, mas mais provavelmente de pano cru de linho ou algodão. Aqui florescia o jacinto dos poetas, a flor hiacintina e a rosa albardeira que cobria a encosta árida rivalizava em cor com a nobre rosa de Mileto. Da Pérsia vieram pessegueiros de flor rosa e nos zambujeiros bravos alimentavam-se os pássaros do campo, o gaio azul e o melro cor de azeviche. O mar era de um azul forte e metálico e o céu de um azul claro, e quebrava as suas ondas como se fora o vento a bramir nas vagas. Estavam reunidas todas as coisas graves e importantes da vida. A elegia breve e simples de um fim de tarde e a solenidade do mar sem fim. Epicuro sentou-se a escrever. Tinha uma bela pena de pavão oriental e a luz tirava reflexos púrpura das grandes letras desenhadas num pergaminho espesso e macio: “O mais aterrador dos males, a morte, não tem nenhuma relação connosco próprios, porque precisamente, quando nós existimos, a morte não está lá, e quando a morte está presente, então nós já não existimos.”
época, admitia mulheres sem serem cortesãs. Na verdade, era a minha sombra do futuro que se atravessava entre estas figuras clássicas, negras e esguias como nos seus vasos, levemente vestidas com grandes togas e túnicas, talvez já de cambraia finíssima da Índia ou seda natural da própria China, mas mais provavelmente de pano cru de linho ou algodão. Aqui florescia o jacinto dos poetas, a flor hiacintina e a rosa albardeira que cobria a encosta árida rivalizava em cor com a nobre rosa de Mileto. Da Pérsia vieram pessegueiros de flor rosa e nos zambujeiros bravos alimentavam-se os pássaros do campo, o gaio azul e o melro cor de azeviche. O mar era de um azul forte e metálico e o céu de um azul claro, e quebrava as suas ondas como se fora o vento a bramir nas vagas. Estavam reunidas todas as coisas graves e importantes da vida. A elegia breve e simples de um fim de tarde e a solenidade do mar sem fim. Epicuro sentou-se a escrever. Tinha uma bela pena de pavão oriental e a luz tirava reflexos púrpura das grandes letras desenhadas num pergaminho espesso e macio: “O mais aterrador dos males, a morte, não tem nenhuma relação connosco próprios, porque precisamente, quando nós existimos, a morte não está lá, e quando a morte está presente, então nós já não existimos.”
Afastei-me por dois mil anos, para reflectir sobre estas palavras.
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