segunda-feira, 25 de abril de 2011

Portugal 3: Entrar na sede da administração regional é como pedir licença na Casa Grande de uma fazenda brasileira ou nas antigas quintas.

Entrar na sede da administração regional é como pedir licença na Casa Grande de uma fazenda brasileira ou
nas antigas quintas. Também nos primeiros museus havia enormes escadarias e colunatas, que nos olhavam sempre de cima, mesmo quando transpúnhamos o seu pórtico. Agora, aqueles centros de poder perderam monumentalidade e cercaram-se de vulgaridades. Mas são eficazes, nas suas barreiras de vidro, na severidade das mil portas cerradas, no escrutínio dos balcões erguidos como muros.

Lá dentro crescem cortinas de aço que separam os homens da sua humanidade, e todas as criaturas amarelecem como múmias à luz de néon das paredes cegas.

Aqui, a palavra pousa na brancura do papel como um cadáver e cobre as lombadas da mesma cor negra.

E no entanto, na hora vesperal, todos os homens e mulheres recortados nas soleiras de vidro carregam dolorosamente o sol.

Porquê insistir na cantilena da tristeza burocrática destas vidas? O estereótipo romântico do manga-de-alpaca virado do avesso. Também aqui a vida é bem mais complexa e cromática.

Mas asséptica, como a cidade. Já pensaram que o ar urbano tem um cheiro uniforme que deixamos de sentir? Apenas quando o chumbo e o carbono nos invadem as narinas nos damos conta.

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