Não, não falo de Deus morto pelos filósofos, mas de um Ente que
nasceu com a expansão do Universo até à explosão da Vida e viveu entre nós
quatro mil anos, dois mil no Oriente e outro tanto nas duas margens do
Mediterrâneo. Morto em Hiroxima, ou tornado moribundo pelo cogumelo radioactivo
e, misericordiosamente abatido em Nagasáqui. O seu fim anuncia o nosso
holocausto. Podemos duvidar do poder fulminante do Criador, mas não da potência
destruidora do Homem. Em certo momento da História, uma nação inteira, um bloco
compacto de aliados, encontrarão razões políticas e morais para usar a bomba
termonuclear. A mão de Deus, fossilizada em 9 de Agosto de 1945 nas areias
radioactivas, já não o poderá impedir. Não será um doido, ou um fanático, a assinar
a ordem fatal, mas provavelmente, e outra vez, alguém legitimado por milhões de
votos; que, se tal for necessário, terá ao seu lado os supremos sacerdotes e um
murro compacto de generais. Não sei onde estarão nessa hora os cientistas.
Investirão contra os laboratórios como fizeram no século XIX os primeiros
operários, destruindo as máquinas infernais? Envelhecidos precocemente,
tornar-se-ão homens santos, peregrinando para tratar a cegueira das almas e as
feridas horrendas dos corpos, se ainda houver corpos!? Ou serão os novos loucos
vagueando nas metrópoles vazias, poupados pela insanidade ao sofrimento dos
homens comuns?
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