domingo, 11 de janeiro de 2015

Portugal 19:Encontrei um dia, à beira de um regato, um cavaleiro moribundo, de cota de malha ensanguentada.


Encontrei um dia, à beira de um regato, um cavaleiro moribundo, de cota de malha ensanguentada. Num fio de voz, disse-me, num castelhano rude e sofrido, que se chamava Cid. E os senhores a quem vendera a espada, o denominaram de campeador, tantas foram as pelejas que travou em seu nome. Tinha os lábios gretados de febre e quando o molhei com o seu próprio lenço, estremeceu horrorizado: a água sabia-lhe a sangue, que já encharcava os campos de Castilla!

_Que não… tranquilizei-o. A corrente era límpida e cristalina, o prado verde e os olmos outonais bordejavam-no a ouro, a neve das tão saudosas montanhas de Burgos, que eu próprio pisara pouco antes, conservava a alvura dos arcanjos. Reparei melhor na sua figura esguia: a barba era mais verde que cinzenta e a magreza do rosto fixara o olhar na própria alma dorida que partia para o desconhecido. Entendi, então, que dialogava agora com a sua sombra: servira com a mesma lealdade príncipes mouros e cristãos, confortava-o saber nesta hora agónica que veneravam o mesmo Deus, mas isso ensinara-lhe um vizir de Toledo, que evocava a Cristo e Maomé, os seus profetas.

Fincou-me de súbito a mão sobre o braço desprevenido e fez menção de nele se apoiar para erguer o corpo num tremor violento. Amparei-o surpreendido:

_ O cofre! Queria rever o cofre onde deixara a sua palavra empenhada! Queria mostrar aos concidadãos que nenhuma riqueza valia mais que a promessa de um homem honrado, mesmo que depositada na vulgar areia que, afinal, ele guardara como penhor.

Acalmei-o de novo. A honra já tinha sido resgatada e todos os seus conterrâneos, mesmo os que ainda haveriam de nascer, veneravam agora aquela arca encoirada e ferrugenta, modestamente levantada numa das paredes da cleresia da catedral. Fixou-me incrédulo e confuso:

_ Pois havia já pago as suas contas terreais!? E que catedral era essa, como é que os servos daqueles plainos secos e mirrados, que a morte varria como folhas secas cada Inverno, podiam entregar aos seus barões e bispos não só a carne, o vinho e o pão, para cobrir longas mesas, mas também o ouro das cúpulas, escadas e altares, o suor que lavra a pedra das agulhas, a prata dos cálices e paramentos…!?

Mas a luz já lhe abandonava o olhar e eu tinha de escolher as ultimas palavras: garanti-lhe que o cofre fora finalmente aberto e os seus credores estavam pagos. Morreu em paz: sem saber sequer que o seu corpo e o da bem amada, iriam repousar enfim sob a mesma laje rasa, que o zimbório da catedral ilumina para a eternidade: ali trabalharam apenas querubins e serafins, milagrosamente suspensos na nave, para deslumbramento do Homem…e de Deus!

2 comentários:

  1. "Bruxas e meigas", bruxas, bruxas meigas e simplesmente a mulher, zelosa protectora do seu meio, da família, a eficaz tratadora que 'dominava os elementos', concentrava em si conhecimento, o passava da boca ao ouvido e lhe dava um sentido.

    Os caldos de galinha,
    associados levemente
    a outros ingredientes
    canjas servidas bem quentinhas
    naqueles dias de enxaquecas
    mais femininas ou não,
    logo que há suspeita do avanço
    de gripes e de constipações
    foram sempre e são eficazes
    no aliviar dos sintomas,
    no recobro mais rápido
    e no fortalecimento do paciente.

    Desde a enxunda de galinha,
    passando pelas papas de linhaça
    sendo estas quentes e
    aconchegadas no pescoço
    até à canga dos bois,
    era tudo 'remédio santo',
    lá se ia o trasorelho.

    Passar uma semana
    em ambiente sombrio,
    ou ainda por talvez mais eficaz
    ambiente avermelhado
    criado por transparências
    de vitrais vermelhos,
    ou forrados com elementos vermelhos,
    denotam bem a foto sensibilidade
    implantada pelo sarampo
    e lá o ia espantando.

    AF
    23-05-2020

    24 de maio de 2020 às 00:08

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  2. "Bruxas e meigas", bruxas, bruxas meigas e simplesmente a mulher, zelosa protectora do seu meio, da família, a eficaz tratadora que 'dominava os elementos', concentrava em si conhecimento, o passava da boca ao ouvido e lhe dava um sentido.

    Os caldos de galinha,
    associados levemente
    a outros ingredientes
    canjas servidas bem quentinhas
    naqueles dias de enxaquecas
    mais femininas ou não,
    logo que há suspeita do avanço
    de gripes e de constipações
    foram sempre e são eficazes
    no aliviar dos sintomas,
    no recobro mais rápido
    e no fortalecimento do paciente.

    Desde a enxunda de galinha,
    passando pelas papas de linhaça
    sendo estas quentes e
    aconchegadas no pescoço
    até à canga dos bois,
    era tudo 'remédio santo',
    lá se ia o trasorelho.

    Passar uma semana
    em ambiente sombrio,
    ou ainda por talvez mais eficaz
    ambiente avermelhado
    criado por transparências
    de vitrais vermelhos,
    ou forrados com elementos vermelhos,
    denotam bem a foto sensibilidade
    implantada pelo sarampo
    e lá o ia espantando.

    AF
    23-05-2020

    24 de maio de 2020 às 00:08

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